Acasos - Entre parênteses

"Eu vou atravessar o rio a deslizar que me separa de você...
...E fica a sensação de saber exatamente por que
menti... "
Ah uns 6 meses atrás não sabia o que era chorar... Quando sentia vontade e quando queria chorar, doía meu peito por dentro, me subia uma angústia, e raramente caia uma lágrima que me doía muitoo o peito. Mas não conseguia chorar de lavar a "alma". E como me culpava por "não ser sensível". Por ir a enterros, enterrar pessoas queridas e meu corpo não deixar transparecer como eu sofria com aquilo. Apenas não conseguia, as pessoas diziam para mim não me culpar por não conseguir chorar, mas me cumpalva e muito, por não conseguir demonstrar meus sentimentos.

O que sentia por você era algo como uma paixão avassaladora, que destruía tudo por onde passava, gostava de sentir aquela sensação de perder a noção das coisas, do tempo, era como se eu saísse do meu corpo e agisse involuntariamente. Quando via já tinha feito, já estava na sua casa, já tinha ligado, já havia ficado falida de amor. E fazia de tudo para ficarmos perto.
Pois bem, depois que lhe conheci, 6 meses atrás. Você me ensinou a chorar, me deu uma dor a primeira vez que lhe "perdi", a primeira vez que achamos por melhor nos afastarmos, como chorei aquele dia. As lágrimas caiam e eu já não conseguia conter. Pela primeira vez havia experimentado a sensação de querer parar de chorar e não conseguir. Havia virado uma "manteiga derretida". Gostava desse apelido, porém gostava quando chorava sozinha, não gostava de compartilhar isso com as pessoas. Acho que ninguém tem nada a ver com isso.

E aconteceu que um dia você havia me mandado um e-mail dizendo que o melhor era sermos apenas amigas. Como chorei esse dia, como chorei noites a fio.
Mas como a única maneira de ter você por perto era ser sua amiga, arrisquei. Por quê, não?
Mas logo descobri que isso acabava comigo, ver você chorar dores de outro amor, ajudar você a enxugar lágrimas de outros amores.
Foi então que decidi: preciso me afastar, ainda gosto muito de você.
Ficamos quase um mês sem nos falar, eu tentava contra a minha vontade, respeitar isso. Não lhe procurar, não ligar. Ah se soubesse quantos e-mails ensaiei enviar, quantas mensagens pelo celular escrevi mas não mandei. Quantas vezes cheguei a discar o número do seu cel, mas não liguei. Quantos dias inteiros chorei, pensando que naquele momento já não era nos meus braços que você estava, já não era "minhas" aquelas risadas soltas, já não me "pertencia" tanta beleza.

Conheci pessoas incríveis nesse meio tempo. Pessoas que me ajudaram a levantar das cinzas, pessoas que mostraram que nem só de alegria a vida era feita, mas que haveria a possibilidade de novos amores.

Foi quando depois de um mês recebi uma mensagem que mudou meu dia. Era ela, quando li aquela mensagem, mudou tudo, as cores ficaram mais vivas, as flores parece que desabrocharam. Tudo voltou a ganhar sentido de novo. E quando dei por mim, já estava loucamente apaixonada novamente e trocando mensagens pelo celular, ligações. Uma vontade de reencontra-la e dizer tanta coisa. Quando abri os olhos, estava com a mãe no telefone dizendo:
Preciso te ver, daqui meia nos encontramos em tal cidade.

Ela mais que de depressa aceitou o convite e nos encontramos. Quando eu a vi, estava mais bonita, mais alegre, mais solta. Na hora uma vontade de abraça-la e beija-la. Mas apenas me contive e nos abraçamos. Falamos de nada vezes nada. Era apenas a companhia. E foi num momento desse que tomada pela súbita emoção peguei na mão dela. Na hora pensei o que estou fazendo não posso me dar esse luxo, lembro apenas que senti aqueles lábios delicados sobre os meus, o beijo continuava com o mesmo gosto de sempre: O gosto do desejo de sempre.

Naquele momento me veio a mente, as tardes que passei chorando pelos cantos da casa, as tardes que pegava o ônibus de volta para casa e vinha chorando o caminho inteiro. Já havia virado um ritual entrar no ônibus e começar a chorar, os passageiros já não me olhavam com ar de estranheza mais. Apenas entendiam e compreendiam meu choro. Chegava em casa, ia direto para o banho. E minha mãe sempre perguntava por que todas as tardes chorava.
Lembrei de tudo isso. E tive vontade de me bater, vontade de gritar comigo mesma. Mas aquele beijo era tão envolvente, tão desejado, me confortava ter ela por perto.

Apenas disse: Gosto tanto de você, que você não pode imaginar. Não poderia ter lhe beijado.
E ela apenas respondeu: Eu também gosto muito muito mesmo de você.

Aquilo soava como música aos meus ouvidos. Ela também gosta de mim, também pensou esse tempo que estivemos longe. Pensei em bombardeá-la com inúmeras perguntas. Por quê havia me deixado? Por quê havia escolhido estar com outra pessoa? Por que havia me feito sofrer tanto se agora estava juntas? Por quê?
Mas achei melhor não dizer nada e curtir aquele momento. Como foi gostoso. E desde então nos víamos com mais frequência e dizíamos com o peito aberto o que sentíamos. Era tão gostoso senti-la que estava de volta que era minha cúmplice novamente.

E então não sei o que aconteceu. Se foi eu, se foi você, se fomos nós. Mas em algum momento o pó mágico de "pirim-pim-pim" da Sininho, havia acabado em alguma esquina e por mais eu tentasse, por mais eu implorasse. Já não era a mesma coisa. Desejava você, a saudade acaba comigo e queria vê-la. E chegou o dia, o primeiro dia que me evitou, que disse que não estava bem e não queria me ver.

Como fiquei triste aquele dia, como fiquei magoada, pensando em todos os planos que havia feito para nós juntas, pensando "aonde foi que eu errei". E seguiu assim aquela semana.
Me mandou um e-mail dizendo que se sentia sozinha, e que queria alguém do lado para lhe dizer que esta tudo bem, e que não sabia se alguém no mundo lhe amaria novamente.

Ah como fiquei triste em ler aquilo, como chorei de novo, como a angústia me pegou de jeito. Pensava enquanto ela quer alguém para fazer tudo isso. Eu só quero ela do jeito que está, com seus defeitos, manias, acertos, erros, persistência, só quero ela do jeito que é. Não quero alguém para me dizer que vai ficar tudo bem. Quero ela me abraçando, me amando e me desejando.

Não sei quando e nem por quê, só sei que hoje nos cobramos de muitas coisas, e não era pra ser assim. Sei que gosto dela com tanta força, que chego a chorar, cada vez que penso na distância que nos separa. Vejo nela uma amante, uma namorada, uma mulher, uma amiga, confidente, uma cúmplice e uma amiga. Resultando numa companheira tão desejada.
E ela vê em mim apenas uma amiga, alguém em que confiar. Triste, né?!

Ah se eu tivesse coragem de lhe dizer tudo isso. Cansei de amar e não ser amada. Só queria ver o amor brotar de novo, ver aquele sorriso estampado nela de novo, ver ela ansiosa em me ver, verificar como ela ficar nervosa na minha presença.
Mas perdemos o encanto, e hoje já não é mais reciproco. Tenho tanto medo de lhe dizer tudo isso antes da hora. Mas já sinto que ela não sente o mesmo que eu. Que a falta que ela me faz, não é a mesma falta que eu faço a ela. Se ela me permitisse eu queria ser essa pessoa e dizer: Calma, vai ficar tudo bem... Ser essa pessoa que irá ama-la.
Mas acho que ela não tem coragem de dizer o que sente, e terei eu novamente de lhe dizer que meu amor um dia nos fez bem, hoje já não nos faz tão bem.
Queria ouvir daquela boca, com aquela vozinha baixinha em tom de brincadeira:
Ahh larga de besteira, isso é bobagem é claro que gosto de você. Você é louca mesmo.

Mas sinto que isso não vai acontecer. Por isso, hoje vai ser um daqueles dias que vou chorar, ate ficar irritada comigo, por que não consigo para de chorar, por que gosto de alguém que já não gosta mais de mim como imagino.
(Obs.: Pela primeira vez tive vontade de terminar de ler esses livros o mais rápido que puder)

"Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero apenas contar-te a
minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
- Eu soubesse repor -
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!"
Manuel Bandeira

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